terça-feira, 31 de janeiro de 2012

a olhos.

Lady in Orange Shoes Painting - Lady in Orange Shoes Fine Art Print - Stacey Mayer

olhe
tamanha tarde mansa
naquela saia sincera, rodada
armada
marcada meus olhos vermelhos
pareando ardil

o citredo amarelo do limão e dos dias
cáusticos, corrosivos
no branco fiel dos olhos verdes
na aurora baixa de domingo

rasgando aagulha
sol e som e sorte
o áspero prazer dos braços arredios
o sangue
do macio adeus risonho
de quem pega o coletivo
e
de quem chega em fevereiro

que é quando
onde
o adeus vai
e nessa contenda de querer
o ver vermelho verde e cheio
ela se decide pelo talvez

sábado, 28 de janeiro de 2012

Arte, Pena, Leão




a arte corrói a alma dos homens da corrompida máscara de chumbo que é comprada com as moedas de ouro. simples troca. a verdadeira arte é ácida, feito um limão no sol que se derrama na mão invisível do malfazejo. e só dele. a arte, quando honesta, limpa a fuligem e a graxa, como estopa. faz o mesmo pela maquiagem da rúbris, tal leite de rosas em pele de bufão triste. a arte infesta de pulgões as ervas daninhas, e só elas, nos jardim de flor poesia. sem agrotóxicos. a arte incita escárnio e maldizer, ao que merece escárnio e maldizer.
ao sabor das ironias. a arte trás aa boca o gosto de zinabre de uma ressaca, quando o gosto de zinabre precisa ser sentido. dá o porre a quem precisa. a arte, quando verdadeira, orienta do que vem sendo feito de ruim, batendo na cara dos paralisados com um martelo de aço e titânio. porque a beleza nem sempre é fácil. a arte, quando e enquanto verdade, é amante do próprio amor. platônica e insistentemente. a arte queima nos dedos dos ditadores e tatua seu nome nas pálpebras dos tiranos. badala seu sino nas camas dos horrores. a arte não tem nem treme nem se ajoelha. a arte se curva ao pequeno e dobra o grande. não tem distinção de classe, credo, gênero ou cor predileta. a arte não se encontra na escola, biblioteca ou academia, mas nas quinas do mundo, a arte, na verdade, não ensina escultura, aprende a beleza dos bueiros.

a arte mesmo não se explica. explode na nossa cara.


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

lenga nº(antítese)





Pontes, Postes, peitos, pensamentos.


Oh pária!, 
não páre a voz calada:
mordaças, maldições, miragen
merda.


_escrevendo com carvão as paredes do ontem.


Desenhando enormes pênis 
sortidos, 
de todos os gostos, 
o mau gosto mau gosto,o mau gosto, mau gosto,
nas entranhas míticas dos livros,
do excomungado anteontem.


Seu fogo juvenil,
juvenil,
ardeu a brasa morna,
que agora cinza,
cega o olho dos caretas.


Cega Seu olho,
cega Meu olho,


pulverizando hoje,
hoje,
apenas hoje.
O agora, o instante.
Que sucede acabar.


quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

ameaça.




bom dia

meu nome é o seu. acredito que me conheça de tempos imemoriáveis. não no espelho, cara amiga cara, não do tato impossível, cara amiga mão, não dos cheiros inexplicáveis, irmão nariz. entretanto, posso garantir que sou confiável feito uma tesoura sem ponta e que de mim não esquece nem lembra.
por muito tempo vivemos de constante guerra e de prof(anos)undos amores. me matei e te matei na mesma freqüência e com a mesma intensidade que você ia ao banheiro ou sentia o corte de um pedaço de papel. fizemos bem e fizemos mal um ao outro. por vezes fui seu apocalipse e deixei você ser o cavaleiro branco. por vezes fui o curinga e lhe deixei ser o batman. por vezes trocamos os papéis até não haver heróis e vilões. até que tudo se tornou ofensa para você. corremos para nós mesmos para as pazes, mas já que éramos um só, não havia, afinal, para quem correr: nos tornamos tediosos, bobos e previsíveis um ao outro.

e então, veio o tédio.

você se ganhou essa massa de gordura, pesada e imprópria. seus dedos perderam a vontade. o mundo era essa coisa que você colocava na caixa de legos e ia ganhar seus trocados, muito trocados. tentar ser quem não pode ser. repito, quem não podemos ser.
você me traiu, meu amor, você nos traiu. você se traiu.
esse é o grande motivo que vou nos queimar vivos e deixar uns pedaços de cinzas por aí. vamos nos pulverizar como eu sempre quis e você sempre hesitou. vou nos picar miudinho, para que os papéis se espalhem e depois, gasolina, isqueiro e fogo.

bum.

mas isso não será um adeus. seremos eu, agora e para todo o sempre.
seremos eus. e assim, de uma vez por todas, essa gordura será dissolvida num poço que você mesmo criou aí, em algum lugar longe, a quem nem eu mesmo tenho acesso. nem você, nem ninguém.
tudo será queimado vivo, assim acontecerá, com data, hora e meios marcados.
e como sabemos, eu e você, não existe um fim do mundo.

de todos os cortes, machucados e sentenças de demência que já lhe fiz, essa é a forma mais leal que encontrei de te ameaçar. não importa quem for, começando de seu funeral, entenda que foi necessário seu fim. seu começo e sua implosão.

com todo o afeto do mundo.
você.